A necessidade sempre foi o motor do desenvolvimento, sempre foi a responsável pela relação do homem com a natureza. Na tentativa de satisfazer às suas necessidades o homem inicia o domínio da natureza.
Na Antropologia Malinowski define cultura como sendo a resposta que o homem dá às suas necessidades. Daí o equívoco em se referir a culturas desenvolvidas ou não. Por exemplo, a vestimenta traduz-se muito mais em necessidade de se proteger do frio para os homens que habitam o hemisfério norte e extremo sul do que para os que habitam a linha do equador e trópicos, tendo em vista o clima quente destas regiões.
A natureza, ao mesmo tempo em que é a fonte de vida do ser humano, constitui-se no seu maior desafio. A relação do homem com a natureza, inicialmente pautada no medo, aos poucos foi-se transformando em sinônimo de poder, através do uso da tecnologia.
A Revolução Industrial, que aconteceu sob o ideário da modernidade, estabeleceu um novo conceito de necessidade.
"A intensidade, a satisfação e até o caráter das necessidades humanas, acima do nível ideológico, sempre foram precondicionados. (...) Podemos distinguir tanto as necessidades verídicas como as falsas necessidades. "Falsas" são aquelas superimpostas ao indivíduo por interesses sociais particulares ao reprimi-lo: as necessidades que perpetuam a labuta, a agressividade, a miséria e a injustiça. (...) A maioria das necessidades comuns de descansar, distrair-se, comportar-se e consumir de acordo com os anúncios, amar e odiar o que os outros amam e odeiam, pertence a essa categoria de falsas necessidades."(Marcuse)
Dentro disso, temos o desenvolvimento desenfreado, onde as falsas necessidades transformam-se, velozmente, em sucatas e o preço pago é a constante deterioração da qualidade de vida, do meio ambiente.
O século XX foi marcado pela tecnologia. Ela é o divisor de águas entre os que são considerados desenvolvidos, subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Além das armas nucleares, é a tecnologia a maior arma que os países encontram para defender-se da "colonização" intentada pelos países "ditos desenvolvidos".
A tecnologia custa caro em todos os sentidos, principalmente quando o preço que se paga é a vida humana.
"Atualmente, o poder político se afirma através dos seus poderes sobre o processo mecânico e sobre a organização técnica do aparato. O governo das sociedades desenvolvidas e em fase de desenvolvimento só se pode manter e garantir quando mobiliza, organiza e explora com êxito a produtividade técnica, científica e mecânica à disposição da civilização industrial. E esta produtividade mobiliza a sociedade em seu todo, acima e além de quaisquer interesses individuais ou grupais. O fato brutal de o poder físico (somente físico?) da máquina superar o do indivíduo e o de quaisquer grupos particulares de indivíduos torna a máquina o mais eficiente instrumento político de qualquer sociedade cuja organização básica seja a do processo mecânico. (...) No período contemporâneo os controles tecnológicos parecem ser a própria personificação da razão para o bem de todos os grupos e interesses sociais - a tal ponto que toda contradição parece irracional e toda ação contrária parece impossível."(Marcuse)
O "boom" desenvolvimentista iniciado nos anos 50 nos E.U.A. e Europa e nos anos 70 no Brasil, trouxe consigo uma crescente degradação do meio ambiente.
Já em fins dos anos 60 e durante toda a década de 70, a poluição ambiental estava em pauta. Falava-se em poluição sonora, poluição do ar e poluição das águas.
Quando falamos em racionalidade, individualidade, espaço público e bem-comum estamos nos referindo, especialmente, ao meio ambiente, à racionalidade que destrói as condições fundamentais de vida do ser humano. Aos valores que colocam as riquezas materiais sobrepujando a riqueza maior que é a própria vida.
A declaração dos direitos do homem, resultado da Revolução Francesa, estabelece que todo homem tem direito à vida. Entretanto, esta máxima adotada em quase todas as nações do mundo, parece ser esquecida, entrando, apenas, no direito formal.
O ideário da modernidade, em voga até os dias atuais, ressalvadas as proporções históricas, parece sustentar a própria destruição de seu valores intrínsecos (liberdade, igualdade e bem-comum), na medida em que dá lugar à desenfreada "corrida do ouro", desprezando os "meios" em favor dos "fins". É a máxima de que "os fins justificam os meios".
Do pensamento da modernidade foi confundida a idéia de individualidade com individualismo, preponderando o segundo, que significa a exacerbação do narcisismo, do culto ao Eu em detrimento do sujeito coletivo, da organicidade.
Entendemos que a universalidade e a individualidade não estão dissociadas, ao contrário, andam juntas em matéria ambiental. São os indivíduos que poluem um meio que é universal. Sabe-se que os fenômenos da natureza interligam o planeta. Acidentes ecológicos de grandes proporções podem atingir a todos graças aos fenômenos das correntes marinhas e das massas de ar. A reivindicação da internacionalização da Amazônia em decorrência da crença de que ela é o "pulmão do mundo" é prova disto. O lixo jogado na rua é formado por pequenos pedaços de papel, por exemplo, jogado por cada indivíduo separadamente, que acredita que por ser tão pequeno não vai sujar a rua. O resultado são ruas imundas. É o individualismo a toda a prova.