quinta-feira, 7 de junho de 2007

A eterna Musa da Bossa Nova

Não era uma grande intérprete. Não era nem grande. Tipo "mignon" como se costuma dizer, Nara Leão, no entanto, era uma gigante. Firme em suas posições e de personalidade forte em suas escolhas musicais, apesar da visível timidez, Nara Leão notabilizou-se por gravar músicas de compositores novos. Foi uma das maiores intérpretes de Chico Buarque de Hollanda, cantou também Martinho da Vila, resgatou Zé Kéti. Popularizou as canções de protesto. E eclética e visionária, participou, também, da Tropicália, movimento de música brasileira liderado por Gilberto Gil e Caetano Veloso. Sem fronteiras, cantou com Fagner e outros nomes da música nordetina, como Robertinho do Recife e Geraldo Azevedo.

Nara participou, ativamente, do início da Bossa Nova. Reunia, em sua casa, nomes como Ronaldo Bôscoli (de quem chegou a ser noiva), Roberto Menescal (a quem fêz conhecer o Jazz e conhecia desde menina, também foi sua namorada), Carlos Lyra e João Gilberto, entre outros.

Em 1963, estreou com o musical, escrito por Vinícius de Moraes e Carlos Lyra, intitulado "Pobre menina rica". No ano seguinte estreou o show "Opinião", no teatro de mesmo nome de propriedade de Gianfrancesco Guarnieri. Foi, também, a responsável pelo lançamento de Maria Betânia, a quem chamou para substituí-la no show Opinião. Betânia, até então, era uma jovem cantora de Salvador. O show "Opinião" foi um marco na música popular brasileira pois foi o início da contestação ao período da Ditadura Militar no Brasil. Foi o início da resistência dos artistas à censura e falta de liberdade. Também no show, Nara Leão resgata o grande sambista Zé Kéti. Fêz o show ao lado dele e de João do Vale.

"Talvez tenha sido Nara, dentre as cantoras brasileiras, a primeira artista, após o movimento militar de 1964, a alçar o canto na direção da liberdade. Ao participar dos shows Opinião e, em seguida, Liberdade, Liberdade, a tímida Nara deu o primeiro "grito", repetido pela classe artística, alguns intelectuais, exilados e jornalistas, proclamando a necessidade do retorno do País à sua ordem democrática e Constitucional. Não parou aí. Ao longo dos anos de autoritarismo, tornou-se o símbolo da resistência no seio do movimento artístico. Instigante este traço de Nara Leão: tímida, recatada, recolhida em seu modo de cantar, de ser e de se expor; a partir da aparente fragilidade de seu ser, tomava decisões e posições com a firmeza necessária para transformar-se em liderança de natureza pública por meio da cultura. Possuía a decisão secreta e inabalável dos suaves. Havia, também, a consciência política e pública que a impelia para um engajamento e participação nas idéias e lutas de seu tempo. Alternar estados de espírito entre todas essas instâncias, às quais se entregava com sinceridade, dedicação, alto senso profissional e humano de inserção, foi a característica do conflito eternamente vivido por Nara Leão e resolvido sempre de maneira criativa e útil, pois conseguiu ser artista fiel e séria, mãe dedicada, cidadã participante e amiga certa."(Artur da Távola).

"O fato de apoiar todos os movimentos, desde que fossem bons, fez com que eu reunisse o maior repertório do Brasil. As pessoas podem ter discutido se eu canto ou não canto, se gostam ou não gostam, mas têm que admitir que a minha falta de preconceito em relação aos movimentos fez com que eu gravasse coisas antigas, novas e de vanguarda." (Nara Leão)

Não era uma grande intérprete, mas cantou grandemente com suavidade e simplicidade, que a tornaram uma gigante da música popular brasileira. Chamá-la de Musa da Bossa Nova é uma bela homenagem, mas é reduzir a sua imensa contribuição à música brasileira em geral, vez que ela mesma fêz questão de cantar diversos gêneros.

Há 18 anos perdemos Nara Leão - A grande!

crédito: foto no alto à direita de Mário Luiz Thompson; foto acima sem crédito

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