quarta-feira, 16 de maio de 2007

Quanto mais mexe pior fica

Este juíz do Tribunal Regional do Trabalho de Campinas, Ernesto Dória, que está sendo acusado de ser o intermediador da corrupção de desembargadores na Operação Furacão, vai ter que usar muito óleo de peroba para poder articular a sua defesa através da alegação de inocência. Hoje, foi mostrada uma gravação feita pela Polícia Federal onde ele é envolvido em mais um caso de corrupção. Desta vez ele queria receber a indenização devida (?) a sua mulher em consequência de uma Ação movida contra o Metrô do Rio. O que ele pretendia era receber o dinheiro diretamente do Metrô e pediu ao coronel Cláudio Rosa, sub-chefe da coordenadoria militar do governo do estado do Rio de Janeiro, que libereasse o dinheiro, referido por Dória como uma “merreca" de uns R$ 300 mil.

O juíz afirma que conversou com o Governador Sérgio Cabral e que este lhe pedira para não tirar a Carta Precatória que ele tinha um meio deste dinheiro ir para o Metrô e ele receber logo.

Minuto de esclarecimento: nós, reles mortais, quando entramos com qualquer Ação contra o Estado (seja o Município, o Estado ou a União) e ganhamos, para recebermos o dinheiro temos que pedir uma Carta Precatória, que é um documento de crédito contra o Estado em razão de uma ação perdida na Justiça. A Carta Precatória tem que ser apresentada, geralmente no meio do ano, para o órgão devedor para que possa entrar no orçamento para o ano seguinte. Mas, na realidade este ano seguinte fica sendo seguinte indefinidamente. Daí a expressão "ganha mas não leva".

Voltando ao juíz, ele afirma que não deixou tirar a Carta Precatória e que daria 25% ao coronel, a quem chamou de irmão e amigo. Ele ainda reclama de "alguns malandros" que queríam cobrar 30% dele.

Outro ponto a ser destacado é a afirmação do advogado de defesa do juíz que disse que "absolutamente ele não corompeu nem foi corrompido". Então tá, oferecer presentes da ordem de 25% de R$ 300 mil reais em troca da liberação deste dinheiro não é corromper, viu? Então ninguém mais pode dar um presente a um amigo?

Mais uma curiosidade: o juíz foi Assessor de Roberto Marinho durante dez anos (1975 a 1985) e segundo consta ameaçava os donos de bingos que iria mandar a Glbo ir aos bingos e caça níqueis caso não pagassem mensalmente a ele o que ele queria. "(...) O juiz Dória gosta de falar ao telefone e de dizer que é importante:

“Eu sou amigo dos filhos do Roberto Marinho”, disse Dória na gravação.
“O juiz Dória se mostra irritado quando outros juízes prometem e não cumprem. Também reclama porque os juízes passaram a brigar e espionar uns aos outros”.
Em outra conversa, o juiz Dória diz que exige dinheiro dos bingos todo mês. E quando não pagam, ele diz que sabe como reagir. Na gravação, Dória “fala que ia mandar a Globo nos bingos do Jaime e diz que ele tinha que dar dinheiro para ele todo mês". (Conversa Afiada)

Para conhecerem melhor de quem estamos falando, além dos crimes de que é acusado, o juíz tem o seguinte currículo, extraído da página do TRT 15ª Região:

Dr. ERNESTO DA LUZ PINTO DÓRIA
O Juiz Ernesto da Luz Pinto Dória é Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com colação de grau em 1965.
Cursos de Doutorado na Cadeira de Direito Penal pela Faculdade Nacional de Direito; Criminologia Aplicada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Legislação do Trabalho; Relações Internacionais; Mercado de Capitais; Execução Fiscal; Direito Social; Mercado de Capitais, supervisionado pela Bolsa de Valores do Estado do Rio de Janeiro; Direito Tributário na Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Direito Marítimo; Prática Forense ao Direito do Trabalho; Direito do Trabalho na Fase de Execução; Aplicação da Legislação do Direito do Trabalho; Prática de Direito do Trabalho; Normas Penais e Sanções no Mercado de Capitais da Bolsa de Valores do Estado do Rio de Janeiro; Legislação, Aplicação e Prática Atualizada do Direito do Trabalho; Legislação e Normas da Previdência Social e Normas de Aplicação da Lei de Acidentes de Trabalho.
Juiz Togado fundador do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, oriundo do quinto constitucional, pela classe dos Advogados. Foi Presidente da 3ª Turma entre os anos de 1992 e 1995.
Indicado pelo Conselho da Ordem do Mérito Judiciário, o Colendo Tribunal Superior do Trabalho conferiu-lhe o grau de Comendador da mesma ordem, em 1988.
Chefe da Representação do Gabinete do Ministro da Justiça no Estado do Rio de Janeiro desde a administração do Ministro Petrônio Portela (1979 a abril de 1985).
Representante do Ministério da Justiça junto ao CONCINE.
Membro da Comissão de Reforma do Código de Trânsito.
Assistente do Prof. Oscar Stevenson, Cadeira de Direito Penal, no Curso Superior de Polícia da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
Assessor Especial do Presidente das Organizações GLOBO (1975 a 1985).
Eleito com maioria dos votos para exercer o cargo de Vice-Corregedor Regional do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, para o biênio 1998/2000.
Eleito com maioria dos votos para exercer o cargo de Corregedor Regional do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, para o biênio 2000/2002.

Não podemos mais dizer que só os que não têm acesso à educação desviam e cometem crimes. Nosso Douto Desembargador fêz até doutorado e fala como um meliante rameiro. A expessão "merreca" é indicativa disto.

Vejam só: um juíz com uma vasta folha corrida de acusações fundamentadas em gravações de telefonemas, onde se ouve claramente a sua voz, portanto, muito difícil afirmar inocência.

Quem usa óleo de peroba em móveis em casa vai ter que correr aos supermercados, pois o juíz Ernesto Dória vai acabar com o estoque.

Nenhum comentário: