sexta-feira, 20 de abril de 2007

Etanol 'é ameaça disfarçada de verde' dizem ambientalistas

Da BBC Brasil/Estadão Online
Cerca de 200 organizações ambientalistas assinaram uma carta aberta em que qualificam de "grave ameaça disfarçada de verde" a idéia de elevar a produção e o consumo de biocombustíveis no mundo.

O documento, divulgado em Madri, na Espanha, critica duramente a União Européia, que em março deste ano fixou metas de utilização de biocombustíveis. Além disso, um porta-voz das entidades condenou também o entusiasmo brasileiro com as iniciativas neste sentido.

"A UE sugere que grande parte dos cultivos destinados a 'bio'-combustíveis terão de ser produzidos nos países do hemisfério sul e exportados para a Europa", afirma o texto. "Ainda que isto pareça uma grande oportunidade para as economias do sul, a realidade demonstrou que os monocultivos para 'bio'-combustíveis, como de palmeiras, soja, cana-de-açúcar e milho, conduzem a uma maior destruição da biodiversidade e do sustento da população rural.

"Para os ambientalistas, outros tipos de energia alternativa - eólica, solar e de biomassa, por exemplo - são menos danosos ao meio ambiente que os biocombustíveis.

Dano à Amazônia
O documento foi proposto pela organização espanhola Ecologistas en Acción, e divulgado ao fim de uma conferência realizada em Madri, um mês depois de a União Européia estabelecer metas de utilização de fontes alternativas em sua matriz energética.

Em março, a Comissão Européia, o braço executivo do grupo de 27 países, estabeleceu que pelo menos 20% de toda a energia consumida pelo bloco devem ser provenientes de fontes renováveis até 2020.

Entre as medidas, a CE determinou que 10% dos combustíveis consumidos pelos automóveis de cada país sejam biológicos. O porta-voz da Ecologistas en Acción, Tom Kucharz, disse que a maior demanda por biocombustíveis vai exercer pressão ambiental e fomentar disputas por terras "nas áreas ecologicamente mais frágeis do globo", entre elas o Brasil.

Metade da matéria-prima utilizada pela União Européia para produzir biocombustível é originária do Brasil, ele afirmou. Em 2005, o país exportou 50% das 538 mil toneladas de óleo de soja e palmeira que a UE comprou para este fim.

"Não entendemos o entusiasmo brasileiro em relação aos biocombustíveis, porque o Brasil tem grande experiência no tema, e conhece os efeitos negativos de uma má gestão da selva amazônica, que é um patrimônio da humanidade", disse Kucharz.

Direitos humanos
Segundo ele, os efeitos também serão sentidos em outros países do hemisfério sul, especialmente na África e na América do Sul. "Em menos de 15 anos, por exemplo, as estimativas indicam que os bosques primários da Indonésia terão desaparecido. Isto tem uma importância não apenas local, mas para todo o clima regional", ele disse.

Na carta aberta, as entidades alertam ainda que a febre dos biocombustíveis pode estimular a expansão das plantações de grãos geneticamente modificados - que têm maior produtividade - e alimentar disputas por terras nos países do hemisfério sul.

"Graves atentados contra os direitos humanos foram registrados em plantações de cana-de-açúcar, palmeira e soja no Brasil, na Argentina, Paraguai, Colômbia e Sudeste asiático", afirma o manifesto.

Nesses países, segundo o documento, são comuns "os casos de escravidão, salários de miséria, condições precárias de trabalho, conflitos violentos por terra, mortes e graves problemas de saúde devido à utilização de produtos químicos e ao desflorestamento. "Para Kucharz, "a destinação de terras agrícolas para produzir 'culturas energéticas' em vez de alimentos - sendo que 850 milhões de pessoas passam fome no mundo - viola gravemente o direito à alimentação."

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