sexta-feira, 13 de abril de 2007

Mercado ou não? Dilema sem fim

do JB Online
Para que o software livre se firme como alternativa de modelo de negócio na Sociedade do Conhecimento o governo precisa fazer bem mais do que já vem fazendo. Se, de um lado, iniciativas como o Portal do Software Público e a eclosão de uma dezena de cooperativas de desenvolvimento de software representam avanços significativos, por outro, fica cada vez mais evidente que o país perde chances claras de criar maros legais exemplares, como foi o da governança Internet.

Há consenso de que existem muitas questões pendentes para a consolidação do software livre como negócio no país, que passam pelo estabelecimento dos marcos legais, incluídos aí os tipos de licenças à luz da nossa Lei do Software; pela formação de mão de obra qualificada, por incentivos à pesquisa básica nesta área; pela maior colaboração entre empresas, universidades e centros de pesquisa e pelo estabelecimento de um modelo de sustentabilidade. Para avançar no marco legal é preciso que o próprio governo trate o software livre mais como mercado e menos como comunidade. E deixe isso claro para todos. Não dá é para ter duplo discurso. Como acontece com os organizadores do evento. Enquanto Mário Teza afirmava em entrevista à Radiobrás que "na questão do software livre, o Brasil já fez um reposicionamento mundial,com a nossa indústria de tecnologia tendo o mesmo potencial que o biodiesel no futuro, em seus respectivos setores", na cerimônia oficial de abertura do evento, Marcos Mazoni, da Celepar, reafirma diante da platéia lotada que a comunidade de software livre não pode ser tratada como mercado, mas como nação, "já que a lógica da comunidade de software livre não é a do mercado, é a lógica da cooperação coletiva".

Para entender o tamanho da encrenca, na mesma cerimônia de abertura, a Sun anunciou que, finalmente, liberou todo o Java sob licença GPL, a partir do JDK 7. Significa que agora, de fato, Java caminha para ser 100% livre antes do segundo semestre. Em novembro passado, a Sun já havia liberado o código do Java HotSpot e alguns outros módulos Java. Hoje, apenas as bibliotecas continuam fora da GPL.E Simon Phipps, Chief Open Source Officer da Sun, anunciou ainda que a Sun pretende, nos próximos meses, liberar todos os seus programas sob licença GPL. O que significa que, para Sun, software livre é um mercadão. E faria bem o Brasil se tentasse entender os modelos de negócios que estão por trás de recentes licenciamentos como este, ou os da IBM. São baseados no fato de que o desenvolvimento colaborativo quebrou paradigmas, forçou parcerias entre grupos de usuários, fundações sem fins lucrativos e empresas e aumentou a preocupação com a propriedade intelectual, com diferentes modelos de licença.

Segundo Simon Phipps a Sun mudou muito nos últimos quatro anos. E a maior mudança foi a descoberta de que era possível ganhar transformando o Java em software livre. De onde vem o dinheiro? Da venda de uma solução completa, reunindo diversos softwares livres. Não mais da licença, mas do serviço de desenvolvimento e suporte da aplicação. Uma evolução do modelo da venda de serviços. No mundo todo, o software livre está deixando para trás aquela idéia de que é algo incerto, sem garantias de suporte.Moral da história: a gente tem que aprender a aproveitar esta onda. A grande oportunidade do software aberto é um monte de código para melhorar os pacotes. É uma oportunidade para o Brasil e nós não estamos aproveitando. Nós estamos sendo usuários, estamos sendo críticos, mas continuamos fazendo muito pouco.
Postado por: Cristina De Luca

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