Do Último Segundo
Centenas de índios montaram barracas na frente do Congresso brasileiro para protestar contra projetos de infra-estrutura que, segundo afirmam, ameaçam a sobrevivência de suas tribos, que já sofrem devido a doenças e disputas de terra.
Os índios, desde mulheres vestidas apenas com saias de folha a jovens com jeans e camisetas, desembarcaram em Brasília, nesta semana, para apresentar suas reivindicações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Muitos acreditam que Lula, um ex-sindicalista de esquerda, os abandonou. O dirigente ignorou a maior parte dos pedidos por concessão de terra feitos durante o primeiro mandato dele e, no segundo mandato, propôs obras de infra-estrutura que ameaçam a sobrevivência dos índios, afirmam. 'Esse governo não está nos ajudando, mas sim nos prejudicando. Como você se sentiria se um gasoduto ou uma estrada atravessasse seu jardim?', perguntou Uílton Tuxa, coordenador de tribos indígenas do Nordeste do Brasil.
Os quatro dias de protestos terminam na quinta-feira, quando o Brasil celebra o Dia do Índio.
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado por Lula em janeiro, prevê a construção de dez barragens, oito linhas de transmissão de energia, sete estradas, três gasodutos e duas estradas de ferro apenas na região amazônica, segundo o grupo ambientalista ISA.
Ameaça à floresta
Os índios temem que os projetos atraiam para a floresta amazônica mais madeireiras e garimpeiros e que provoquem ali mais poluição e doenças. Muitas tribos já enfrentam dificuldades para sobreviver. 'Se eles não adotarem medidas imediatas, meu povo pode ser dizimado dentro de 20 anos', disse Jorge Marubo, do vale Javari (oeste da Amazônia), onde moram vários índios.
Cerca de 90 por cento dos 4.000 índios dessa região sofrem de malária e mais de metade deles tem alguma forma de hepatite. Quase 40 morreram em virtude da doença no ano passado.
Uma crise semelhante atinge muitos dos 170 grupos étnicos que somam entre 450 mil e 750 mil pessoas no Brasil. 'A malária e os garimpeiros voltaram. E meu povo está morrendo', afirmou Davi Kopenawa, líder do povo ianomâmi no norte da Amazônia.
No acampamento montado em frente ao Congresso, os índios abrigam-se à noite sob a proteção de pedaços de plástico preto e, de dia, reúnem-se sob uma grande lona de circo para realizar discussões e realizar performances. No entanto, os sons ritmados da dança da fertilidade da tribo guajajara acabaram sendo abafados pelo barulho do trânsito e pela manifestação de trabalhadores sem-terra que também tentam chamar a atenção dos políticos.
Os guajajara, do Maranhão, protestaram contra a construção de uma represa na região deles. 'Eles estão cortando nossas árvores e logo vão levar embora nossos peixes', afirmou Ana Célia Guajajara, que usava batom vermelho e um vestido com laços sobre as tatuagens espalhadas por todo seu corpo.
Márcio Meira, que comanda a Fundação Nacional do Índio (Funai), prometeu aos manifestantes que lutará 'ao lado dos índios'. Mas Jecinaldo Cabral, coordenador dos grupos indígenas da Amazônia, afirma que já ouviu declarações do tipo antes. 'Ele fala bem, mas ele e Lula precisam agir se desejam que os índios sejam amigos deles.'
Por Raymond Colitt BRASÍLIA (Reuters)
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