quinta-feira, 5 de abril de 2007

Tentei... Tentei... Mas não resisti!

Na última terça-feira, encerrou o Programa Big Brother Brasil 7. Todo ano é a mesma coisa. As pessoas ficam, durante quase três meses, acompanhando pela TV aberta às edições do Programa.

No início havia um certo preconceito em relação ao programa por alguns setores da sociedade e da mídia, que não gostavam do programa, inclusive eu. Até que assisti, por acaso, a edição inglesa do programa e achei muito interessante. A idéia é juntar quatorze pessoas de culturas, idades e gostos diferentes, que não se conhecem, confinadas dentro de uma casa, onde ao final uma leva o prêmio máximo. Detalhe, na edição inglesa o prêmio não é milionário, mas um bom dinheiro que garante a compra de um imóvel (dependendo do lugar, óbvio). Ou seja, não é um programa para enriquecer ninguém.

É um programa de relacionamento e de convivência intensa. É interessante poder observar as reações do ser humano quando submetidos a determinadas situações e que, no final das contas, envolve dinheiro. É uma fórmula de programa que se espalhou pelo mundo, cujo sucesso deve-se, exatamente, ao fato de se poder observar como surgem os conflitos, os amores, os grupos, as identificações etc., na realidade dos confinados.

No Brasil, o programa recebe edições que colocam sempre as dicotomias: rico e pobre, bem e mal etc. e tal. No final do programa, o público da TV aberta, desconhecedor do que seja realmente o objetivo do programa, escolhia “o mais frágil” para vencer – podia ser o mais pobre, o mais atacado pelos demais participantes, o gay... Até que começaram a “produzir novelas” com os acontecimentos dentro da “casa mais vigiada do Brasil”. Os admiradores do reality show original manifestavam-se contra essas edições. Mas, esta edição foi diferente.

Os assinantes do Pay Per View, da Globo Mídia Center, a maioria dos blogs que comenta o programa e até alguns jornalistas da chamada “grande imprensa” (Folha de São Paulo e Jornal do Brasil) apontaram que as edições da TV aberta não correspondiam à realidade do que acontecia dentro da casa. Criticaram que nas primeiras semanas do programa já havia sido forjado um vencedor ou, pelo menos, um grupo para chegar à final, cujas ações dentro da casa, em nada os qualificavam para serem vencedores.

Apontaram para a violação de direitos perpetrada pela direção do programa sobre alguns participantes que foram vítimas destas edições distorcidas da realidade. O mocinho, na verdade era o bandido, o amor do mocinho pela mocinha não existia e blá blá blá... Ou seja, não foi um reality show, foi uma novela que deu errado porque os que eram os falsos vilões perceberam o que ocorria e se juntaram para poder conseguir um lugar ao sol, ou melhor, um lugar na final do programa ou, pelo menos, uma permanência maior dentro da casa para poder ganhar alguns prêmios e mais dinheiro (os participantes ganham uma determinada quantia por cada semana que permanecem na casa).

Quando se cria uma novela o público espera um enredo e que o mocinho e a mocinha se casem no último capítulo e vivam felizes para sempre. Quando isto não acontece o público vai contra os personagens que prejudicam o grande amor. Foi isto que aconteceu no BBB7, aliado ao fato de alguns programas vespertinos reforçarem esta idéia de novela, de casal com amor impossível, denegrindo e injuriando, criminosamente, os participantes que se colocaram contra o script, influenciando o público da TV aberta. O mesmo aconteceu na Internet com alguns blogs/fãs. O Big Brother é um reality show e não uma novela. Por isto é que é sucesso no mundo inteiro sem necessidade de edições que não correspondam à verdade dos fatos. E mais, não existe nos países que transmitem o programa um prêmio em que o ganhador não precisará trabalhar mais na vida. Isto só acontece aqui. Não existe, nos países que transmitem o programa, vários prêmios (carros a rodo) como acontece aqui. O Big Brother não é um programa para resolver a vida financeira de ninguém, isto só ocorre aqui.

E eu com isto tudo? A mim pouco importa se o vencedor é A, B ou C. O que me interessa é que o escolhido, com 91% dos votos, foi uma pessoa de atitudes não muito ortodoxas em matéria de valores éticos e morais. Isto me preocupa e muito, porque se trata da maior emissora de televisão do país e que “dita” os valores da nossa sociedade. Enquanto estamos na esfera das novelas, ainda que algumas delas reflitam a realidade, está claro que é uma obra de ficção. Agora, quando se trata de um reality show não se lida com a ficção e sim com a realidade das pessoas nas condições já mencionadas acima.

E isto é muito grave. Muito, muito grave. O país passa por uma imensa crise de valores e as pessoas que estavam dentro da casa e que mantinham, minimamente, um vínculo com valores éticos e morais (não digo moralista e sim moral) foram rechaçadas pelas edições do programa e, consequentemente, pelo público. Uma coisa é você ser reprovado, pela opinião pública, por aquilo que fez, outra coisa é você ser objeto de edições que distorcem a verdade dos fatos.

Tudo bem que é um jogo, mas existem determinadas coisas que são inegociáveis, mesmo que se esteja num jogo. As pessoas não roubam num jogo de cartas para ganhar a qualquer custo (refiro-me à maioria, os desonestos existem), há regras que devem ser seguidas. E num jogo de convivência, de relacionamento humano, as regras são ainda mais fortes, pois se está lidando fortemente com o emocional de pessoas que não se conhecem e que estão confinadas.

O que ganhou o programa? Um triângulo amoroso, perpetuando a idéia de que uma é para casar e a outra é para o prazer. A velha idéia da esposa e da amante. A velha idéia de que a mulher aceita (tacitamente) a amante para não perder o casamento, a estabilidade etc. A velha idéia de que "ruim com ele, pior sem ele".

O que ganhou o programa? Uma pessoa que manipulou, ofendeu, intimidou, mentiu, dissimulou, enfim, atitudes que entendo não serem as melhores, principalmente, para um Grande Irmão. Aí é que entram as edições para a TV aberta. Muito pouco, ou quase nada, desta faceta do Diego foi mostrado. E ele ganhou o prêmio com 91% dos votos. De duas, uma. Ou o povo, realmente, não conseguiu ver este lado da personalidade do vencedor do programa, visto que pouco foi mostrado, ou, o que é pior, o povo viu e acredita que isto é ser um Grande Irmão. Isto é que é ser merecedor de Um Milhão de Reais. Isto é que é ser um grande jogador. Valendo a máxima de que "os fins justificam os meios".

Que país queremos? Que povo somos? A Globo, através do BBB7, com a vitória do Diego por 91% dos votos, confirmou que estamos vivendo a barbárie.

"O grande inconveniente da vida real e que a torna insuportável para o homem superior é que, se para ela são transportados os princípios do ideal, as qualidades se tornam defeitos, tanto que muito freqüentemente aquele homem superior realiza e consegue bem menos do que aqueles movidos pelo egoísmo e pela rotina vulgar." Ernest Renan

Triste fim de Policarpo Quaresma!

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